30 de nov. de 2010

I Aniversário Diablos

Diabólicos,

Hoje a AARF Diablos Rugby completa seu primeiro ano de atividades. Entre amistosos e jogos oficiais, idas e vindas de jogadores, o saldo até aqui é o seguinte:

8 jogos
1 vitória
7 derrotas

Mas esses são apenas números, e o Rugby não se baseia apenas neles.

Obrigado a todos os jogadores que se esforçaram 110%, tanto dentro como fora de campo para fazer os Diablos crescerem.

Obrigado a todos os jogadores, que deixaram de ser apenas os jogadores dos Diablos, avançaram a linha e já se tornaram parte da família.

Obrigado a todos os jogadores pelas brincadeiras, pelas viagens, pelos risos, pelos choros, pelas cervejas, pelos scrums, pelos lineouts, pelos tries.

Obrigado aos familiares, torcedores e colaboradores pelo apoio durante esse difícil primeiro ano.

Parabéns ao meu clube de coração. Que venham mais aniversários com muita força, dedicação, união e vontade de crescer nesse esporte que escolhemos amar.

5 de nov. de 2010

Paul Tait entrevista...

... Fernando Portugal, o melhor jogador de rugby brasileiro.

1. Quando voce começou jogar rugby?
Comecei a jogar rugby como a maioria das pessoas da minha época, convidado por um amigo. Sem nem saber o que era, sem nunca ter visto um jogo, ou ouvido falar algo sobre esse esporte, fui treinar. Demorei a entender do que se tratava. Treinávamos fundamentos isolados, mas eu não fazia idéia de como tudo aquilo seria usado dentro de um jogo. Mas, como sempre gostei de esportes e de certa forma sempre me destaquei, tive um pouco de facilidade em executar os movimentos do jogo. Logo chamei a atenção dos treinadores. Entretanto, somente no meu primeiro jogo pude entender e sentir a força deste esporte. Me apaixonei por tudo. A viagem para o jogo, a amizade e a cumplicidade das pessoas que jogavam um esporte que pouquíssimas pessoas conheciam, o ambiente de companheirismo, mesmo entre os adversários e, principalmente, o jogo própriamente dito. Nunca mais parei.

2. Você já jogou rugby e viveu na Itália. Como foi para um Brasileiro jogar ?

Foi um pouco difícil, desde a decisão de encarar verdadeiramente o desafio, até conquistar o espaço que havia ido buscar. É uma história bacana. Decidimos eu e o Erick (Putim), ir até a Itália e tentar jogar rugby profissionalmente. Eu não tinha dinheiro para a passagem, mesmo assim fui até a agência e reservei uma data. Quando chegou o dia de pagar fiquei sem saber o que fazer e comentei com alguns amigos, que eram também meus alunos. Eu era treinador do time da Universidade de Direito a USP, o Rugby XI. Horas depois um deles me liga e diz que o time havia feito uma "vaquinha" e me deram o dinheiro pra pagar a passagem. Enfim chegamos à Itália. Saíamos batendo nas portas dos clubes que encontrávamos pela internet. No primeiro clube, o Colleferro Rugby, ouvimos do treinador a seguinte frase: "não conheço vocês, mas conheço o nível do rugby do Brasil. Vocês não vão conseguir!" Mesmo assim nos deixou treinar com a equipe e quatro treinos depois veio conversar conosco dizendo que havia gostado muito do nosso jogo, mas que naquele clube não poderíamos ser inscritos, pois eles jogavam na Série B, que não tinha vagas para extra comunitários. Resolvemos procurar outro time, que fosse da Série A, onde podiam ser inscritos 2 extra comunitários por equipe. Há 20 km de Colleferro, em uma cidade chamada Segni, havia um time que jogava na Série A, série de ascensão para a Top 10, que era a primeira divisão do campeonato italiano.

Chegamos lá e fomos recebidos mais uma vez com uma frase desanimadora: “Na série A italiana, sendo brasileiros, vocês só jogam se forem fenômenos”. Um pouco apreensivos e gostando muito da estrutura que víamos, com jogadores fazendo massagens antes dos treinos, um campo maravilhosamente verde, um bom vestiário, tudo aquilo que nunca havíamos encontrado nos clubes do Brasil. Mas aceitamos mais uma vez o desafio e conseguimos convencê-los a nos contratar. O Erick teve a infelicidade de quebrar a clavícula em um jogo amistoso antes de começar o campeonato e acabou indo embora para o Brasil. Eu consegui ser inscrito na Federação Italiana e joguei todos os jogos do campeonato. Encontrei muita dificuldade. Não sabia falar o idioma e a comunicação dentro de campo ficava bem limitada. O clima também foi algo bastante difícil de me adaptar, jogávamos e treinávamos debaixo de neve. As dores dos impactos eram ainda maiores. Mas deu tudo muito certo. O mais pesado foi ter que trabalhar de pedreiro todos os dias da semana, das 07:00 às 16:30 pra depois ir pro treino. O clube me arrumou uma casa com despesas pagas, mas não me pagava um salário. Foi um ano difícil, mas superei “alla grande” e nenhum desafio mais me mete medo. No ano seguinte solicitei ao presidente do clube, que me desse melhores condições, era difícil ter que provar que era capaz de jogar rugby, mesmo sendo brasileiro, e ainda ter que trabalhar como pedreiro pra me sustentar. O presidente, que havia gostado do meu trabalho e comportamento, ofereceu-me uma casa melhor, com refeições e despesas pagas, um carro e um salário. Foi um ano muito melhor esportivamente. Apesar de um pequeno clube, de uma cidade de 8 mil habitantes, fizemos bons jogos. Terminamos em sexto do campeonato, mas ganhamos de times como Piaccenza Termoraggi, que na ocasião estava em primeiro lugar no campeonato e possui um elenco inteiramente profissional, diferente do nosso, que era em sua maioria de semi-profissionais. Nesta ocasião virei notícia no Gazeta Dello Sport, principal jornal esportivo do país. Um brasileiro jogando rugby na Itália e se destacando era motivo de comentários.

Dois excelentes anos que ficarão eternamente na minha memória.

Era só pra contar a história, vou escrever algo mais resumido..... ehehehe Joguei por duas temporadas na Série A do campeonato italiano, que era a série de ascensão à Top 10. Foi uma experiência incrível. Tive muita dificuldade com o idioma no começo. A comunicação dentro de campo era bem limitada. O clima também é bem diferente do que estava acostumado no Brasil. Jogávamos e treinávamos debaixo de neve, o que deixava as pancadas ainda mais doloridas. Mas consegui me adaptar muito bem, logo já falava o idioma e o frio já não me metia mais medo. Tive a oportunidade de jogar com jogadores do mundo inteiro e isso engrandece demais a experiência. Como é um campeonato profissional jogadores do mundo todo tentam ser contratados. Joguei com neozelandeses, sulafricanos, ingleses, argentinos, romenos, italianos, entre outros. Muitos deles de um nível técnico e físico elevadíssimo. Muitos utilizavam esse campeonato como a porta de entrada para a europa, por exemplo até o Tana Umaga já jogou na Itália e, isso deixa o campeonato muito duro e disputado. Realmente uma experiência maravilhosa. Faria tudo de novo.

3. Rugby no Brasil está crescendo muito com mais times e mais jogadores cada ano mas você acha que o nivél dos times está melhorando?
O nível do jogo melhorou muito nos últimos anos. As informações sobre o rugby estão cada vez mais fáceis de serem encontradas, tanto pela internet, quanto em jogos, que as vezes são transmitidos pela televisão. Mas isso não é o suficiente. Dentro cenário internacional competitivo ainda temos um nível de rugby muito baixo. A CBRu, com a sua nova diretoria, vem trabalhando muito na formação de profissionais capazes de ensinar rugby com qualidade e segurança. Mas o crescimento do rugby no Brasil está sendo tão grande, que essa tarefa é muito dificil. Acabamos formando muitos times, mas sem muita qualidade e com níveis um pouco baixos. No entanto esse é só o começo. Possuimos muitos jogadores talentosos e será inevitável ter o Brasil entre as potências mundiais do rugby. É questão de tempo.

4. O que foi seu melhor momento de jogar para Brasil até hoje?
Tive alguns bons momentos jogando pelo Brasil, mas posso citar quatro como sendo os melhores. Dois pela seleção de XV e dois pela seleção de seven. Nem todos terminaram em vitória, mas no rugby algumas derrotas têm o mesmo valor. Em 2002, enquanto disputávamos as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2003, fizemos um jogo em Trinidad e Tobago e os vencemos por 11 a 10. Era o nosso bixo papão da época, pois havíamos perdido por 45 a 3 no último confronto. Em 2008, depois de 19 anos, o Brasil voltou a vencer o Paraguai. Desses 19 anos eu havia jogado pelo menos 9 anos. A vitória em 2008, depois te tanta doação, treino e sacrifícios, lavou nosso alma. Em 2004, estávamos disputando a eliminatória para a Copa do Mundo de Sevens de 2005. Fomos para o Chile e conseguimos vencer aquela seleção pela primeira vez na história do rugby Brasileiro. Conseguimos essa proesa em um momento importantíssimo, pois valia vaga pro Mundial de Hong-Kong e ainda por cima na casa deles. Uma sensação indescritível. Em 2010, no Sulamericano de Sevens em Mar Del Plata, fizemos um jogo histórico com a Seleção Argentina. Jogamos com os jogadores que estamos acostumados a ver pela TV nas Etapas do IRB Seven Series. Jogamos de igual pra igual. Perdemos o primeiro tempo por 7 a 0 e vencemos o segundo tempo por 7 a 5. O placar final foi 12 a 7 para os Pumas. O menor placar da história desse confronto. Mas o mais legal foi ter vencido o segundo tempo, que era bem nessa etapa que os placares se alargavam.

5. Você acha que a Argentina pode ser sede da Copa do Mundo de Rugby de 2023?
O rugby na Argentina é vivido como em pouco lugares no Mundo. É de se encher os olhos o que nossos "hermanos" conseguiram fazer com esse esporte. Cresceram absurdamente e de maneira amadora. Fiz uma visita n começo desse ano a clubes como Alumni e SIC e é impressionante. O SIC possui cerca de 1200 jogadores inscritos com idades abaixo de 14 anos. Não só acho que possa ser sede de uma Copa do Mundo, como deve. O mundo do rugby, ao qual os argentinos contribuem absurdamente com o crescimento, tendo jogadores em quase todos os principais campeonatos do mundo, deve retribuir esse trabalho contemplando-os com um mundial. E nós tiraremos uma casquinha, já que estamos tão perto. Quem sabe alguns jogos não são feitos no Brasil???????


6. Voce acha que que o sucesso da seleção Argentino (Os Pumas) está influenciado rugby no Brasil?
Durante muito tempo não quisemos reconhecer a força da Argentina no cenário mundial do rugby. Não fizemos muitos intercâmbios com esse país, mesmo estando tão pertos. Talvez a rivalidade entre as duas nações, como por exemplo no futebol, tenha contribuido para esse afastamento. Mas hoje tenho muita tranquilidade em dizer que nos orgulhamos das conquistas dos Pumas e por eles representarem tão bem a América do Sul no cenário mundial desse esporte. E já começamos a estreitar os laços com esse país para obter mais conhecimento sobre o jogo.

7. Se o mundial de 2023 seria na Argentina em 2023 voce acha que Brasil pode chegar no nivél de Uruguai atualmente e assim tem grandes chances de clasificar?
Não tenho a menor dúvida. Como disse no início, isso é questão de tempo e é inevitável. O rugby está crescendo absurdamente no Brasil. Estamos trabalhando muito para que este crescimento seja organizado, duradouro e com qualidade. Em breve teremos condições de enfrentar as grandes potências do mundo. O Brasil merece e deve ser representativo no rugby. Um país continental, que é referência em tantos esportes, não pode ficar de fora deste esporte tão maravilhoso. Acredito muito nisso.